O bom momento do mercado
Fernando Barão
O mercado da Educação Básica privada passou por momentos críticos nos 10 anos compreendidos entre 1995 e 2005. Na ocasião, o número médio de alunos por escola caiu fortemente, prejudicando a rentabilidade e a capacidade de reinvestimento do setor.
Estudos do setor mostraram que esta crise se deveu muito mais a fatores de dentro do mercado do que externos a ele. O número de cursos oferecidos cresceu, naquele período, muito mais do que o número total de alunos matriculados na rede particular. Como resultado, cada escola passou a ter um número menor de alunos em seus cursos oferecidos. Ao adotarem uma política de abertura desenfreada de cursos sem uma contrapartida à altura na demanda, as escolas causaram um desequilíbrio no mercado, que custou caro a boa parte delas.
De fato, foi um período em que se observou o fechamento de uma grande quantidade de escolas.
Essa situação se inverteu a partir da metade da década passada. O crescimento do número total de matrículas na rede privada tem sido constante. Os números agregados da cidade de São Paulo, baseados no cadastro da Secretaria de Educação, confirma isso.
De 2005 a 2010, o número total de alunos matriculados nos cursos de Fundamental e Médio em escolas privadas da capital paulista aumentou em 13%. O crescimento médio anual foi de 2,5% no período.
Nos três anos mais recentes, entre 2010 e 2013, o setor manteve a tendência de crescimento. O total de alunos cresceu 8% nesses anos, com uma média anual dos mesmos 2,5% do período anterior.
Como se vê, a expansão da rede privada não arrefeceu. As pesquisas de alunos realizadas pela Corus Consultores, consultoria especializada em escolas particulares, com seus clientes confirmam essa tendência.
No prazo de nove anos de 2005 a 2014, o crescimento total foi de 21,9%, bastante significativo, em se considerando que a população com faixa etária e renda para estudar em escolas particulares não cresceu nem perto desse índice. E mais importante ainda: o número de alunos nesses nove anos cresceu mais do que o número de cursos no período – estes cresceram 17,5%.
O bom momento vivido pelo setor não se resume ao número de alunos. Outros indicadores relevantes de receita, como bolsas, inadimplência e ociosidade vêm melhorando. Vale lembrar que estes indicadores têm uma sensibilidade muito grande no orçamento de uma escola.
Ao mesmo tempo, as escolas têm conseguido manusear seus preços de forma a conseguir, para eles, uma gradativa elevação real – acima da inflação. A Fipe aponta que nos últimos 10 aos as escolas de São Paulo tiveram reajuste real médio de 2% ao ano.
Uma primeira conclusão possível deste bom momento do mercado é que, já há algum tempo, escolas que vêm encontrando dificuldades em obter crescimento de alunos não podem colocar a responsabilidade sobre o mercado. Os motivos para eventuais perdas de alunos devem ser obtidos da porta para dentro da escola, e não para fora.
Outra conclusão possível é de que houve recuperação de margens no setor. De fato, a margem média das escolas particulares chegou próxima a zero no auge da crise. Esta recuperação é muito bem recebida, mas traz alguns desafios.
Um deles é pertinente à administração de custos: como gerenciar as demandas reprimidas dos tempos bicudos sem comprometer demasiadamente a margem? Nesse campo, houve avanços com a progressiva profissionalização da gestão das escolas.
Outro deles é pertinente aos investimentos. As novas demandas dos alunos, notadamente na área tecnológica, tem acirrado a necessidade de aumento de investimentos – muitas vezes, de forma desproporcional à recuperação da margem.
O bom momento do mercado é uma boa notícia, mas traz também novos desafios para as escolas.
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