Profissionalização da gestão escolar: formação de conselho de administração
O exercício deste poder é uma faca de dois gumes. Se, por um lado, pode propiciar mais agilidade nas decisões e garantir maior fidelidade do modelo educacional e administrativo ao perfil do mantenedor, por outro, por muitas vezes, traz em si o risco da decisão isolada. Muitos donos de escola se veem, com muita frequência, carentes de uma estrutura que lhes permita dividir as decisões mais importantes, em especial aquelas que dizem respeito à estratégia de atuação da instituição. Vale lembrar que a maior parte dos proprietários de escolas não tem formação na área de gestão, e sim na educacional.
Esta realidade também mostra sua face nos casos de escolas formadas por alguns sócios. Os debates costumam se esmaecer ao longo dos anos e as visões tendem a se tornar convergentes. Muitas vezes, eventuais arestas acabam até atrapalhando a gestão, fazendo com que assuntos importantes deixem de ser tratados.
Há, ainda, os casos de divergência de opinião entre os sócios no que se refere a questões estratégicas, que muitas vezes conduzem ao impasse, à imobilidade e ao desgaste nas relações.
A implantação de um Conselho de Administração é uma das ferramentas mais recomendáveis para contornar esse tipo de limitação e contribuir para a efetiva profissionalização da escola.
É importante destacar que a existência de um Conselho se justifica ainda que as pré-condições acima descritas não se encaixem perfeitamente a cada escola. Não necessariamente a escola precisa ser familiar, ou ter uma estrutura de poder centralizada, ou ainda ter sócios com posições divergentes, para que a implantação do Conselho se faça recomendável. Essas condições, encontradas na maior parte das escolas, apenas catalisam os efeitos positivos desta nova modalidade de gestão.
A formatação dos Conselhos costuma se adequar, nos detalhes, ao perfil de cada instituição, mas algumas regras básicas são bastante recomendáveis.
Em primeiro lugar, é importante que haja membros da sociedade compondo o Conselho. A sociedade tem de estar bem representada, preferencialmente pela maioria absoluta das cotas.
Pelo objetivo da implantação do Conselho, fica nítido que ele não deve se encerrar somente aos sócios. Se assim fosse, não haveria necessidade desta instância. A participação de membros externos à sociedade é fundamental para o sucesso da operação. Esses membros externos são os que garantirão o olhar global de quem está de fora. Por este motivo, devem ser selecionados com base na experiência e no talento adequados que possam trazer em seus campos de atuação.Podem ser especialistas em finanças, administração corporativa, marketing, educação, recursos humanos, ou tantas outras áreas que a escola julgue ser importante ter uma opinião embasada.Deve-se privilegiar a diversidade de experiências na composição do Conselho. Ao mesmo tempo, a participação de funcionários de alto escalão da escola também é bastante recomendável.
Ao mesmo tempo em que a pluralidade de opiniões deve ser incentivada, um Conselho muito numeroso também não é interessante, para que não haja perda de qualidade relativa à objetividade dos debates e das deliberações. A quantidade de membros do Conselho deve variar, em geral, de acordo com o tamanho da escola.
A autonomia deliberativa do Conselho é uma questão crítica. Muitos sócios não se veem à vontade para submeter totalmente a gestão de sua empresa à opinião de quem não corre, em conjunto, o risco da operação. Esse desconforto é, em tese, justificável, posto que, à primeira vista, há um descompasso entre responsabilidade e risco. O grau de autonomia deve estar previsto nas normas de funcionamento do Conselho. Cada instituição lida com esta questão de uma forma. Apesar do fato de que a formação de um Conselho costuma ser uma ação de sucesso, é fundamental que os mantenedores se sintam seguros de que podem voltar atrás nesta decisão. Este é um processo reversível a qualquer momento, a critério exclusivo da sociedade. Havendo sucesso nos anos iniciais, vale a pena tornar o Conselho estatutário. Conceitualmente, quanto mais poder tiver o Conselho, mais forte e estável estará a instituição. Em poucas palavras, é uma iniciativa que vale a pena ser tentada.
Os conselheiros devem ser remunerados por sua atuação. Há casos em que se determinam bônus vinculados ao sucesso da operação – seja ganho de alunos, seja aumento na lucratividade. Essa prática costuma amarrar ainda mais o foco dos conselheiros no aumento do valor da empresa. As reuniões devem ter uma pauta pré-definida. Uma armadilha fundamental que se deve evitar é levar para o Conselho assuntos de ordem operacional. É aí que mora um dos maiores perigos. O Conselho deve se focar em questões de caráter estratégico, cabendo a implantação de suas decisões à equipe executiva.
A Corus tem observado e participado, com muito sucesso, de vários processos de implantação de Conselho de Administração. O resultado observado, na quase totalidade dos casos, são ganhos de qualidade na gestão, redução na pessoalidade das decisões estratégicas e o fortalecimento da escola, a um custo relativo muito baixo. O momento de concorrência do mercado indica que este tipo de iniciativa tende a se multiplicar cada vez mais.
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