Ouvindo os ex-alunos: caminho para o sucesso

Ouvindo os ex-alunos: caminho para o sucesso

Muitos dos artigos recentes da Corus vêm tratando da importância da realização de pesquisas para que cada escola possa tratar adequadamente seu planejamento estratégico, envolvendo-se aí a área de gerenciamento do produto (em escola, seria a área pedagógica) e a área de comunicações. É fundamental que os gestores escolares tenham apurado, de maneira científica, com que imagem o serviço oferecido chega à sua clientela e é visualizada pela comunidade em geral.

Informações como essa são, sem dúvida, valiosíssimas. Por este motivo tem aumentado o volume de escolas que procuram por empresas especializadas na realização de pesquisas de opinião. A pesquisa como ferramenta do planejamento, antes pouco cogitada no setor educacional, vem se firmando como aspecto de grande importância para a definição apropriada do planejamento estratégico.

Mesmo que as pesquisas estejam ganhando espaço – o que é muito bom -, ainda havia uma ampla lacuna a ser preenchida. As escolas vinham procurando ter contato com seus clientes atuais e com os potenciais, mas o oceano de riqueza residente nos ex-alunos ainda não havia sido explorado. Tentativas tímidas, como contatos eventuais e realização de eventos esporádicos, resumiam a iniciativa das escolas em seu trânsito junto aos ex-alunos.

Mesmo as escolas que tomaram a iniciativa de formar associações de ex-alunos costumam fazer um uso bastante restrito e pouco estruturado desse acesso privilegiado, do ponto de vista da busca de informações.

E por que os ex-alunos podem ser uma fonte tão rica de informações? É quase intuitivo que a qualidade de uma escola pode ser medida a partir dos alunos que ela forma. Mas que instrumentos existem para apurar esta qualidade? Bem, os poucos que estão disponíveis são parciais e podem conduzir a conclusões equivocadas. O mais famoso deles é o Enem. Esta avaliação foi um grande avanço no campo – que estava praticamente deserto – das práticas avaliativas das instituições de ensino. De fato, o Enem mede uma série de conhecimentos e competências, e é melhor ter essa informação do que não ter. Ainda sem considerar a queda de conceito de qualidade do Enem após os fatos ocorridos no último ano, ainda assim há de se convir que ele, por melhor que seja, não mede tudo. Há uma série de competências importantes para o exercício da vida pessoal e profissional que o Enem não é capaz de medir. Alguns exemplos: capacidade de comunicação oral, capacidade de trabalhar em grupo e apego à ética nas relações.

Historicamente as escolas se posicionaram em um campo à parte das relações sociais e econômicas, como se fossem o único setor que não tivesse a necessidade de contatar seus clientes antigos para saber de que forma avaliaram o serviço de que se utilizaram. Quem nunca ouviu falar nos recalls de outros setores? As empresas, em geral, fazem um esforço enorme para monitorar o que acontece com seus ex-clientes. Muitas elegem essa como uma das prioridades de sua área de planejamento estratégico.

Por que logo as escolas deveriam ficar à parte dessa realidade? Ora, nas escolas os alunos chegam a passar 17 anos de suas vidas. Depois que se formam, eles são, na prática, abandonados à própria sorte. As escolas não têm instrumentos efetivos de acompanhamento da história de vida de seus ex-alunos.

Esse acompanhamento seria vital para que cada instituição pudesse verificar se, de fato, seus formandos estão exercendo, na vida prática, os objetivos teóricos que constam de seus projetos pedagógicos. Será mesmo que não existe a necessidade de ajustes nestes projetos? Se houver, em que sentido e com qual intensidade? Como resolver esse dilema? Como obter essa informação?

A notícia alvissareira é que um grupo de mantenedores de escolas tradicionais da cidade de São Paulo se reuniu e formou uma empresa com o intuito expresso de pesquisar a vida pós-formatura, nos âmbitos pessoal e profissional, dos ex-alunos de escolas particulares. O nome da empresa formada é Eduqual (www.eduqual.com.br), e o trabalho foi realizado em parceria com o Instituto Datafolha.

Os resultados da primeira rodada da pesquisa acabaram de sair. Foram entrevistados 1.500 ex-alunos de escolas particulares da Grande São Paulo. O questionário aplicado buscou levantar, através de mais de 60 perguntas, vários aspectos relevantes do caminho percorrido por cada ex-aluno, assim como uma auto-avaliação a respeito de vários itens de sua personalidade e de suas habilidades.

A mídia tem explorado, nos últimos dias, os resultados gerais da pesquisa – ou seja, aqueles obtidos pelas médias de todas as escolas participantes. Há algumas observações interessantes, dentre as quais poderíamos destacar:

  • A nota atribuída pelos ex-alunos à escola e aos professores é maior do que a atribuída à efetiva colaboração da escola para aspectos práticos da vida, tais como o projeto de vida familiar ou a carreira profissional; isso mostra que há boas lembranças da escola, mas que não estão diretamente associadas aos resultados obtidos pós-escola.
  • O cursinho vem tendo uma importância decrescente e bem menor do que se imaginava na vida dos estudantes dessas escolas.
  • A dificuldade para ingressar no mercado de trabalho não aumentou ao longo do tempo; os ex-alunos não consideram fácil esse ingresso.
  • A proporção de ex-alunos que são funcionários registrados não ultrapassa os 50% – o que mostra a procura por outras formas de relação de trabalho, inclusive o próprio empreendedorismo.
  • A auto-avaliação se mostrou extremamente consistente, com destaque positivo para o item “ética” e negativo para “ações de responsabilidade social”.
  • O percentual de ex-alunos que querem que a escola mantenha os contatos sociais é muito alto.

O universo de informações que podem ser extraídas da pesquisa é, realmente, quase infinito. O maior valor dela, porém, não está nas médias gerais, e sim no resultado individual de cada escola. Cada gestor poderá comparar, para cada um dos mais de 60 itens avaliados, como foi o desempenho de seus ex-alunos em relação à totalidade dos participantes da pesquisa. É aí que mora o verdadeiro “ouro” da iniciativa: será possível avaliar em que aspectos a escola está realmente cumprindo sua proposta e em quais, eventualmente, está falhando. Será possível identificar se o sonho que originou a formação da escola está sendo realizado.

Esta iniciativa pioneira tem tudo para emplacar e dar muito certo. Um instrumento de avaliação como esse poderá permitir às escolas uma extensa gama de decisões práticas a respeito de seu projeto e de sua comunicação com a clientela.

(Imagem: Wavebreakmedia/iStock.com)

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Atualizado: 06/08/2020