A crise e as escolas
Fernando Barão
As notícias provenientes dos meios de comunicação a respeito do cenário econômico brasileiro não têm sido animadoras. O Brasil parece ter saído da posição de país mais promissor do mundo, em que se encontrava até a década passada, para um país que perdeu completamente o bonde da história e desencaminhou sua economia – situação construída durante a década atual.
Tal constatação, infelizmente, não está no campo das suposições. Ela é real. A economia brasileira saiu fortemente dos trilhos nos últimos anos. Sem, por ora, uma percepção de mudanças que pudessem levar a crer em uma melhora.
A partir do momento em que o Governo abandonou sua fidelidade à política do tripé de metas – equilíbrio fiscal, meta de inflação e dólar flutuante -, o viés de resultados passou a se inverter.
Durante boa parte dos anos 2000, o Brasil aproveitou de uma rara composição de economia mundial em franco crescimento com indicadores econômicos internos mais bem cuidados – notadamente pelo Banco Central.
A situação se inverteu rapidamente porque o mundo, por um lado, deu uma freada em sua tendência ao crescimento; e o Brasil, por sua vez, inverteu o norte de sua política econômica.
Temos, hoje, uma meta de inflação que não é meta, pois tem sido superada em todos os últimos anos; uma meta fiscal que só é atingida por maquiagens contábeis; e um câmbio que só é flutuante no discurso, pois sofre interferência contínua do Banco Central.
Aliando esses erros da política macroeconômica com as deficiências conhecidas de nosso modelo econômico – carga tributária elevada e complexa, legislação trabalhista arcaica, déficit estrutural no sistema previdenciário do setor público, fechamento da economia para o comércio externo, justiça lenta e ineficiente, dentre tantas outras, e o Brasil atolou.
Além de inflação em alta, crescimento em baixa e evasão de reservas, temos de enfrentar uma severa crise de confiança. Os investidores externos e internos olham para o Brasil sem qualquer apetite para aplicar seus recursos no setor produtivo. Resultado: a crise se autoalimenta, sem perspectiva de mudança.
Evidentemente esse cenário não é bom para nenhum setor empresarial, o que inclui as escolas de ensino básico. Nossa capacidade de crescimento é muito maior quando a economia vai bem e a confiança das famílias está em alta. Sofremos, portanto, com a crise.
Mas é preciso se considerar que o setor educacional básico é um dos mais blindados contra crises como essa. Para as classes alta e média, a educação privada é um bem de primeiríssima importância, por conta da deficiência da educação pública e da crescente importância da formação na busca por sucesso no mercado de trabalho.
Os efeitos de qualquer crise sobre o setor educacional, normalmente, demoram um pouco para chegar. As famílias tendem a “apertar o cinto” em outras despesas, antes de chegar à educação dos filhos.
Por conta disso, a crise que chega às escolas costuma ter, como seus primeiros sintomas, não a redução de matrículas, e sim o aumento nos pedidos de bolsa e na inadimplência.
É isso que se tem observado no setor. O número de alunos está em constante crescimento já há vários anos. É verdade que a velocidade do crescimento caiu, mas o viés continua bastante positivo.
Já o índice médio de bolsas, apurado pela Corus, vinha caindo até o começo desta década. Há três anos, porém, parou de cair e se estabilizou em torno de 15%. Mas a pressão por concessões vem crescendo.
Já a inadimplência caiu nos anos anteriores, mas a observação do começo de 2014 mostrou uma posição inversa. O índice médio apurado até o final de abril está um ponto percentual mais alto do que há exatamente um ano. Trata-se de uma diferença bastante sensível, por se tratar de 1% de toda a receita da escola no ano. Vale lembrar que nosso setor trabalha com margens relativamente baixas.
Esse movimento ainda tímido de influência negativa sobre o setor parece estar apenas começando. Como não há recuperação econômica à vista, as escolas devem se preparar para uma intensificação desses sintomas. A profissionalização de processos de concessão de bolsas e a sistematização dos processos de cobrança de inadimplência e de atendimento de alunos novos são armas fundamentais para deter os efeitos da crise. Tudo isso, claro, aliado a um serviço de qualidade – e com percepção clara desta qualidade pelo cliente.
(Imagem: smolaw11/iStock.com)