Infraestrutura: preocupação pertinente

Infraestrutura: preocupação pertinente

O aumento da competitividade no setor do ensino privado tem levado a um crescimento no volume de pesquisas realizadas a respeito dos tópicos que são mais valorizados pelos pais de alunos no momento da escolha da escola para seus filhos.

De fato, até meados da década de 90, quando a relação oferta x demanda de vagas ainda era favorável às escolas, elas não tinham muitos motivos para se preocupar com isso. Até aqueles tempos, ainda que adotassem uma atitude passiva do ponto de vista de comunicação, eram as famílias que procuravam as escolas.

Uma série de mudanças estruturais ocorridas neste mercado nos últimos 15 anos, já bastante comentadas em outros artigos da Corus Consultores, inverteu fortemente este viés de interesse. Já há bastante tempo, são as escolas que estão procurando as famílias.

Neste cenário – já não tão novo, aliás -, conhecer os gostos e os interesses dos clientes passou a ter um valor muito maior. Preocupações com atratividade, bom atendimento e capacidade de conversão de visitas em matrículas se tornaram prioritárias nas escolas. Ao mesmo tempo, ter foco na manutenção dos próprios alunos, reduzindo ao máximo a evasão para escolas concorrentes, também entrou na ordem do dia.

As escolas introjectaram, ainda que, em muitos casos, a contragosto, o conceito de gerenciamento de relacionamento com o cliente (em inglês, CRM), tão comum em outros setores.

O foco no cliente e o marketing um-a-um passaram a ser conceitos afeitos à administração escolar. Isso está por trás do aumento da demanda por pesquisas de interesse de famílias com filhos em idade escolar.

Um olhar rápido e desatento sobre o resultado de boa parte dessas pesquisas pode conduzir as escolas à falsa impressão de que a infraestrutura não é um fator primordial de sucesso na competição de mercado. É recorrente, nessas pesquisas, que os fatores de avaliação pedagógica ocupem todos os primeiros lugares.

Assim, a qualidade dos professores, a qualidade do material didático, o volume de reuniões pedagógicas, o atendimento da coordenação, a diversificação da grade curricular, o método pedagógico, a estabilidade do corpo docente, são itens que invariavelmente se encontram no topo da lista de preocupações e preferências dos pais de alunos. Em linhas gerais, são questões deste tipo, mais ligadas ao produto final das escolas, que é a educação das crianças, que permeiam a preocupação dos pais no momento de comparar as escolas.

Diante disso, como explicar a crescente preocupação das escolas com a questão da infraestrutura? Como entender que tantas instituições drenem recursos volumosos de seus orçamentos para incrementar itens posicionados apenas do setor intermediário de pesquisas de interesse? Esses recursos não seriam mais bem aplicados se fossem todos direcionados para a atividade-fim, ou seja, para o fortalecimento da educação dentro da sala de aula?

Pode parecer uma contradição, talvez até um contrassenso, mas as escolas correm no caminho certo, ao não menosprezar a importância dos investimentos em infraestrutura física. Existem pelo menos dois bons motivos para isso.

O primeiro deles, de menor importância, está ligado ao fato de que, apesar de não aparecerem no topo das listas de importância para os pais, os itens ligados à infraestrutura sempre estão localizados em posições que não podem ser desprezadas nestas pesquisas. Não são itens para os quais os pais não dão importância alguma. Pelo contrário: apesar de sistematicamente posicionados abaixo da avaliação pedagógica, são fatores para os quais estão constantemente atentos e que certamente pesarão na decisão final.

O segundo deles, e este de imensa importância, se concentra no fato de que as escolas têm uma imensa dificuldade em concretizar os efetivos diferenciais que apresentam na sua atividade-fim, que são, em última análise, o projeto educacional e a forma como ele é implementado. Observando atentamente as autodefinições que as escolas apresentam ao mercado em seus materiais de divulgação, é realmente bastante difícil distinguir o que é diferente de um para o outro. As linguagens são muito parecidas. Os discursos se assemelham.

Essa dificuldade não é ultrapassada nem na visita para primeiro contato com as escolas. Nesta fase, os discursos continuam padronizados. São poucas as escolas que conseguem mostrar, com fatos concretos, o que efetivamente garante a diferenciação da instituição em relação aos concorrentes em sua prática pedagógica.

Com isso, as escolas acabam envolvidas em um paradoxo interessante. Ao mesmo tempo em que os pais valorizam demais a qualidade pedagógica, a ponto de dar-lhe tanto destaque como fator decisivo na escolha, as escolas não conseguem oferecer uma política de comunicação que mostre os motivos pelos quais elas devem ser as escolhidas, e não seus concorrentes.

Acabam sendo muito poucos os ferramentais de que os pais dispõem no momento da escolha da escola. Não é à toa, aliás, que uma outra realidade mostrada pelas pesquisas é que o fator que, de longe, mais justifica que uma família vá conhecer uma escola é a indicação de parentes ou amigos.

É nesse contexto que a preocupação com a infraestrutura se justifica nas escolas. Se os diferenciais pedagógicos são tão difíceis de concretizar, os de infra não o são. Estes são visíveis, palpáveis, fáceis de explicar e de mostrar. São inquestionáveis. São fáceis de comparar.

Tendo em vista que a avaliação da infraestrutura, apesar de não ser primordial, é mencionada como importante nas pesquisas, ela acaba sendo um relevante fator de potencial desempate no momento da escolha da família, indecisa no que se refere ao seu critério principal, que é a avaliação da qualidade pedagógica. Imaginem quantas e quantas vezes isso não ocorre nos lares familiares, no momento da decisão sobre em qual escola matricular os filhos. As Escolas A e B têm propostas que são muito
similares, mas a A tem quadra coberta e a B, não. Em qual matricular?

O desafio das escolas, portanto, é duplo. Investir em infraestrutura é o caminho mais simples, mais direto e, dada a competição no mercado, cada vez mais necessário. Naturalmente não é possível investir maciçamente todos os anos – e nem há necessidade disso. Uma política de longo prazo, porém, que preveja incrementos constantes e sempre interligados com os reais interesses da clientela específica de cada escola – a ser medido, é claro, por pesquisas -, é bastante recomendável.

O desafio mais complicado é estabelecer formas de comunicação que permitam que os pais concretizem os efetivos diferenciais do produto pedagógico. As escolas que conseguirem sucesso nesta empreitada certamente poderão se preocupar bem menos com investimentos em infraestrutura.

A busca dessa conquista, porém, tira o sono de nove entre dez escolas, ainda sem indicadores consideráveis de sucesso.

Sendo a infraestrutura um dos fatores mais palpáveis de verificação de diferenciais para os pais de alunos, vale a pena observar o que dizem as pesquisas realizadas a respeito dos itens que eles mais valorizam em uma escola privada. Esta mensuração de interesse pode variar muito de escola para escola, de clientela para clientela, naturalmente. Mas os itens recorrentes podem servir de roteiro inicial para um plano de investimentos.

São oito os itens de infraestrutura que aparecem com mais destaque nas pesquisas de interesse com pais de alunos com filhos matriculados em escolas particulares: a) sistema de segurança; b) higiene e limpeza; c) laboratórios equipados; d) espaços amplos de lazer; e) quadra coberta; f ) computadores para uso pedagógico; g) piscinas; h) equipamentos modernos.

Essa lista pode variar bastante de escola para escola, dependendo, por exemplo, do poder aquisitivo da clientela e dos cursos que a instituição oferece. Uma escola de Educação Infantil, por exemplo, certamente terá uma demanda maior por espaço livre e menor por laboratórios. No Ensino Médio deverá se dar o contrário.

Ainda que se considere, porém, a necessidade de verificar essas especificidades para cada caso, seguramente esses oito itens são os mais observados e ponderados pelos pais na maioria dos casos.

A relação de importância entre eles também deve variar muito, mas eles estão apresentados, da letra “a” até a letra “h”, em ordem decrescente de importância, de acordo com o observado nas pesquisas.

É interessante notar, nesse sentido, que os dois primeiros lugares da lista não necessariamente demandam investimentos pesados por parte das escolas. Um bom sistema de segurança não costuma ter um custo proibitivo – podendo, até, ser alugado, bem como contar com apoio de recursoshumanos bem treinados. O segundo item é ainda mais instigante: é impressionante como higiene e limpeza são mais importantes do que a grandiosidade do que está sendo mostrado. Temos, aqui, uma questão de foco, e não de volume de investimento. Apesar de tão bem posicionado quanto à importância na decisão sobre a escola dos filhos, menos da metade dos pais pesquisados está efetivamente satisfeita com o desempenho da escola atual dos filhos neste quesito. Impressionante, não?

Há de se destacar que, na cidade de São Paulo, vem crescendo o apreço dos pais de alunos por áreas livres e verdes. Isso está em sintonia com a forma de crescimento da cidade, e faz com que se reduza a atratividade das escolas que são mais verticais ou cujas aparências estejam muito marcadas pelo concreto.n De qualquer forma, tão ou mais importante do que os itens que compõem a infraestrutura de uma escola é a adequação do projeto físico ao pedagógico. Essa tem sido uma preocupação crescente nas escolas de sucesso, de forma a garantir que o espaço físico seja planejado e condizente com o que a escola se propõe a fazer.

A considerável padronização do discurso das escolas no que se refere ao seu produto pedagógico empurra as escolas ao necessário exercício de buscar a diferenciação na infraestrutura. Uma boa política de investimentos nesta área, porém, não se resume a gastar muito em pouco tempo. Pelo contrário. Trata-se de gastar bem e sempre escutando os verdadeiros interessados, que são os pais de alunos, através de pesquisas de satisfação e interesse. Esse parece ser o caminho das pedras na questão da infraestrutura.

Imagem: peshkov/iStock.com

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Atualizado: 10/08/2020