Momento decisivo para as escolas particulares
Fernando Barão*
O segundo semestre de 2021 está começando e traz, consigo, algumas sinalizações fundamentais para o mercado do ensino privado no Brasil.
Desde o começo da pandemia, em março do ano passado, as escolas vêm padecendo de uma série de dificuldades de gestão, o que acabou por desembocar em perdas fortes na rentabilidade do setor. Os indicadores compilados pela Corus mostram que 2020 foi o ano de menor margem de lucro do século entre as escolas privadas. O que já estava ruim ficou pior em 2021: a margem prevista para este ano está bem menor do que a de 2020. Isso ocorre porque as questões advindas de perda de receita continuam ativas – evasão na Educação infantil, aumento nos descontos, perda de demanda nas atividades extras -, enquanto a principal iniciativa que foi tomada para reduzir custos em 2020, a utilização da MP do Emprego, acabou não se repetindo em 2021. Ou seja, as escolas continuaram com perda de receita, mas não conseguiram seguir com a contenção de despesas.
Com a rentabilidade fortemente contraída, as escolas vêm fazendo o possível para se manter vivas e competitivas no mercado. As principais ações nesse sentido têm sido tomadas no âmbito da estratégia de proteção ao fluxo de caixa – dentre elas, a utilização de empréstimos a taxas subsidiadas, que foram oferecidos por muitos bancos, em parceria com o Governo.
A pergunta que não quer calar, no mercado, é: até quando essa situação vai perdurar?
Os ventos que sopram do lado de fora das escolas permitem, nesse momento, um sopro de esperança. Existe uma combinação de fatores que tende a propiciar um segundo semestre melhor para as escolas, com um início do processo de recuperação. O momento, assim, pode ser decisivo.
Quais são essas circunstâncias que nos permitem ter uma posição de alento e expectativa positiva?
1) Avanço no processo de vacinação. Apesar dos passos muito lentos que a vacinação apresentou durante todo o primeiro semestre, a sobra de vacina nos países ricos, notadamente nos Estados Unidos, já está permitindo uma aceleração nos países pobres, inclusive no Brasil. Estamos ultrapassando a marca de 1 milhão vacinados quase todos os dias – sendo que, há um mês, raramente alcançávamos essa marca em algum dia.
2) Início do efeito da vacinação sobre as curvas de casos e mortes. Ainda que a pandemia tenha se mostrado bastante traiçoeira desde seu início, o Brasil fecha junho e abre julho com uma evolução promissora das estatísticas de casos e mortes. A correlação entre vacinação e queda em casos e mortes é altamente esperada e foi observada nos EUA e na Europa. Pode estar chegando a vez do Brasil.
3) Vacinação para os profissionais da educação. A antecipação da primeira dose, no estado de São Paulo, para todos os profissionais a partir de 18 anos é uma notícia alvissareira para o setor. Os pais de alunos tendem a ver a escola como uma espécie de “oásis” da pandemia, o único ambiente em que todos os maiores de idade estão vacinados. A confiança em mandar os filhos para a escola deve aumentar bastante.
4) Possibilidade de atender a uma quantidade bem maior de alunos presencialmente a partir de agosto. A mudança do protocolo da pandemia para as escolas do estado de São Paulo permitirá que muitas delas, dependendo de sua ociosidade de vagas, atendam presencialmente a 100%, ou quase isso, durante todos os dias da semana. Essa é uma novidade de forte impacto especialmente na Educação Infantil e, dentro dela, nas faixas de idade mais baixas, entre 0 e 3 anos. Muitas famílias que preferiram, até agora, deixar seus filhos em casa deverão mudar de posição a partir de agosto.
Este é um momento, portanto, de ações decisivas por parte das escolas, no sentido de maximizar o aproveitamento da oportunidade de recuperação que se avizinha. Quais são os tópicos a que as escolas devem estar mais atentas agora?
1) Agora é a hora do marketing na Educação Infantil. Existe um exército bem numeroso de alunos com idade para frequentar esse curso que estão em casa e que deverão passar a voltar para o sistema escolar a partir de agosto. A guerra pela conquista desses alunos vai se dar agora, e não na virada do ano. A hora de divulgar, de aparecer, de se mostrar, é em julho. Um trabalho bem feito tende a atrair muitos alunos. Vale lembrar que é muito mais fácil captar alunos que estão fora do mercado do que tentar tirar alunos matriculados em outras escolas.
2) As atividades extras devem ser ressuscitadas. A possibilidade de atender a mais alunos de forma presencial, atendendo ao protocolo de um metro de distância entre eles em sala de aula, reacende a possibilidade de oferecer às famílias um elenco mais amplo de atividades extras. Essas atividades agregam um valor muito grande ao produto da escola e devem voltar a ser um diferencial palpável na escolha dos pais entre uma escola e outra. Em tempo: ninguém aguenta mais ficar com os filhos em casa.
3) Descontos de ocasião devem ser revistos. Enfraquecidas por sua posição de estar tão amarradas ao ensino remoto, muitas escolas acabaram cedendo a pedidos de desconto de ocasião feitos pelos pais. O aumento no percentual de descontos foi substancial após o início da pandemia e esse é um dos grandes desafios da gestão das escolas. Com o retorno às aulas presenciais, é o momento de atacar essa questão, que é bastante sensível no orçamento escolar. A iniciativa de rever esses descontos deve ser das escolas, pois a falta dessa iniciativa deve propagar o efeito dos descontos altos por muito tempo ainda.
4) Não deve haver precipitação na precificação para 2022. As escolas, em geral, acabaram reajustando seus preços abaixo da inflação na passagem para 2021. Existe aí uma diferença a recuperar. Ao mesmo tempo, porém, a inflação ao consumidor está muito alta, acima dos 8% nos últimos 12 meses. Tudo indica, assim, que o reajuste de anuidades para 2022 terá de ser forte. Não convém antecipar essa decisão, seja para não “queimar a largada” perante a concorrência, seja para que ela seja tomada com uma quantidade maior de informações com relação à projeção inflacionária.
O momento presente tem uma importância expressiva para as escolas particulares. Mais do que nunca é necessário estar atento a todos os movimentos para a tomada correta de decisão, pois é isso, em última análise, que vai definir quem vai sair melhor após o término da pandemia.
*Fernando Barão é diretor da Corus e possui extensa experiência na área da educação privada. Conheça a equipe da Corus clicando aqui.
(Imagem: FamVeld/iStock.com)