Tempo de casa, um dilema
Fernando Barão
A rotatividade de pessoal costumeiramente é encarada, pelas escolas, como um desafio a ser vencido. Em boa parte dos casos, a troca de professores acaba prejudicando a consolidação do projeto educacional e reduzindo o vínculo da escola com os alunos e famílias.
Os custos de treinamento e capacitação de pessoal novo vão muito além do simples investimento financeiro neste processo. A energia dispensada no processo inicial de curva de aprendizagem do pessoal, notadamente o docente, é muito grande.
Isso tudo sem falar nos custos financeiros de ter uma rotatividade alta, com constantes gastos com rescisão de funcionários.
Os argumentos acima são verdadeiros, porém abordam de forma incompleta a questão da rotatividade e do tempo de casa dos professores e funcionários. Levando esses argumentos em consideração, a conclusão direta indicaria que as escolas deveriam se esforçar ao máximo para manter o pessoal até a aposentadoria – às vezes, até além dela. A questão que se coloca é: essa conclusão é verdadeira?
A observação mais detalhada das relações de trabalho e, em especial, das transformações tecnológicas que estão varrendo o mundo e começando a chegar ao setor educacional, a resposta é: não. Existem outros tantos argumentos que mostram que a rotatividade pode trazer mais benefícios do que perdas.
O ambiente escolar já é, por natureza, um dos mais resistentes a mudanças. As aulas hoje são dadas de maneira muito similar às de 100 anos atrás. A abertura à renovação é muito pequena – mas, exatamente por isso, começa a se mostrar um diferencial palpável entre as escolas.
Os profissionais mais antigos, por um lado, carregam uma experiência maior, o que é bastante interessante; é também verdade, porém, que essa antiguidade vem muitas vezes acompanhada de acomodação e resistência ao novo.
A média de tempo de casa de professores em escolar particulares, segundo pesquisas da Corus, é de 7,5 anos. Dos demais funcionários, é de 6,5 anos. Mais uma questão interessante: estar acima dessa média é bom ou ruim? Da mesma forma: e estar abaixo, é o quê?
Ter esses indicadores para comparação de sua escola com o mercado é bastante importante, para uma compreensão do perfil de relação com a equipe, o que pode ajudar no planejamento estratégico da instituição. Contudo, não existe uma regra definida para determinar se a escola deve buscar estar acima ou abaixo da média.
O mais indicado, em geral, é estar próximo à média, para não ter uma escola rejuvenescida ou envelhecida demais, em relação à concorrência. Estar num dos dois extremos, portanto, poderia ser preocupante.
Mas o que mais importa nessa análise é a conclusão de que o tempo de casa só será um bom quesito para o funcionário se vier acompanhado de uma boa avaliação de desempenho. Daí, mais uma vez, a importância de fazer um processo de avaliação de desempenho periódico e estruturado.
Nessa avaliação cada vez mais devem entrar, com pesos significativos, a abertura às novidades tecnológicas e a proposição de caminhos para adequar a escola à nova realidade de mercado. Os profissionais que atuam em escolas particulares não estarão completos se não absorverem estas habilidades.
Por fim, vale lembrar que, em caso de avaliação de desempenho negativa, o custo de homologação não deve ser empecilho para a realização da demissão. A troca de um funcionário mal avaliado tem um valor inestimável para uma escola – e deve ser feita ainda que seja necessário adquirir empréstimo para tanto.
(Imagem: monkeybusinessimages/iStock.com)